domingo, 28 de julho de 2013

Polícia do Rio reprime protesto durante visita do Papa.

Policia do Rio
RIO DE JANEIRO – A Polícia Militar acabou com um protesto de cerca de 3.500 pessoas ao redor do Palácio Guanabara, sede do governo do estado do Rio, no bairro das Laranjeiras, zona sul da cidade, durante a primeira reunião oficial do Papa Francisco com a presidente Dilma Rousseff e o governador Sérgio Cabral, na noite desta segunda-feira (22). Sete pessoas foram presas, dentre elas dois repórteres, um menor foi apreendido e pelo menos oito pessoas ficaram feridas, dentre elas dois policiais, um fotojornalista internacional e dois manifestantes por arma de fogo.

Manifestantes, dentre os quais duas crianças, de 3 e 14 anos, buscaram refúgio numa filial das Lojas Americanas após serem encurralados na Rua das Laranjeiras. Soldados atiraram bombas dentro da loja, antes de invadirem e efetuarem prisões.
Advogados do plantão jurídico da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) foram gratuitamente agredidos e receberam spray de pimenta ao tentarem intermediar casos de detenção com o fim de garantir a ordem jurídica.
Policiais atiravam e prendiam na Rua Pinheiro Machado (da sede do governo) de forma generalizada. A perseguição se alastrou pelas ruas adjacentes e arredores, e por bairros vizinhos, como Largo do Machado, Botafogo e Flamengo.
A integrante do movimento Dia do Basta à Corrupção Gerusa Lopes diz que testemunhou dez carecas, que segundo ela seriam agentes à paisana, espancando um manifestante junto ao meio fio e dizendo que era ladrão. “Mentira, eu estava lá e vi o que estava acontecendo e quem estava passando também viu. Mas quando comecei a questionar, a polícia, em tom ameaçador, me mandou calar a boca”.
Cerca de mil manifestantes terminaram lotando a Rua Pedro Américo, da 9ª Delegacia Policial, no Catete, para exigir a libertação dos que teriam sido detidos arbitrariamente. Houve tensão no início da madrugada e a tropa de Choque chegou a lançar spray de pimenta. Um grupo fechou a Rua do Catete (adjacente), outro seguiu para o Tribunal de Justiça, no Centro, do qual dependia um habeas corpus para um dos detidos, e outro acompanhava a situação dos feridos no Hospital Municipal Souza Aguiar, também no Centro.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) emitiu nota repudiando a acusação feita pela PM, através de seu twitter oficial, de ter atrapalhado o trabalho da corporação no Souza Aguiar. Acompanhado de dez criminalistas, o vice-presidente da OAB-RJ, Ronaldo Cramer, apurava no local a denúncia de que a PM estaria pressionando o hospital a liberar rapidamente os feridos, de modo a impedir a realização de exames de corpo delito.
“Presente aos protestos de rua no Rio desde o início de junho, sempre com o objetivo de evitar arbitrariedades, a OAB-RJ reitera que suas ações visam a assegurar o cumprimento da lei, a defesa da liberdade de expressão e o Estado Democrático de Direito”, afirmou a entidade em nota.
Feridos
Um farmacêutico que se manifestava pacificamente junto com a namorada foi atingido por tiro de arma de fogo na perna direita. Ele teve os primeiros socorros prestados pelos médicos voluntários Felipe e Keison no local e foi encaminhado com hemorragia para o Hospital Gaffrée e Guinle, na Tijuca. A Polícia Militar nega a utilização de armas de fogo.
Fugindo da perseguição policial pela Rua São Salvador, Rafael Caruso também recebeu um tiro de arma letal, na batata da perna. Ele foi acolhido na portaria de um edifício por moradores, na mesma rua, para que recebesse os primeiros socorros de médicos voluntários.
Segundo uma das moradoras que não quis se identificar, mesmo vendo que socorriam o baleado, soldados passaram atirando bombas e balas de borracha contra a portaria e também teriam jogado “beijinhos”.
Caruso foi encaminhado para o Hospital Souza Aguiar, onde outras quatro pessoas estavam sendo atendidas, entre elas, Rafael Gomes, que tomou três tiros de bala de borracha, e o fotojornalista da Agência France Press (AFP) Yasuyoshi Chiba, que ficou ferido após levar um golpe de cassetete de um policial.
Japonês, 42 anos, Chiba recebeu três pontos na cabeça e realizou exames na unidade. “Vi um manifestante cair no chão. Os policiais o agarraram e o levaram. Fotografava a cena quando fui bruscamente empurrado por outros policiais. Então levantei os braços com minha câmera para mostrar que era fotógrafo e que tinha intenções pacíficas, mas um policial de uniforme e escudo me acertou a cabeça com o cassetete”, conta ele à AFP, o que desmente a versão da Globo News, que noticiou erroneamente que o fotógrafo havia sido ferido por um coquetel molotov.
Um cabo do 41º BPM (Irajá), atingido por um molotov, sofreu queimaduras e foi encaminhado para o Hospital da Polícia Militar, segundo a corporação. Um carro da Rede Globo foi danificado por pedras.
Infiltrados
A concentração começou às 18h no Largo do Machado, em frente à Igreja Nossa Senhora da Glória. Em seguida, as pouco mais de mil pessoas marcharam com cartazes para o palácio, onde gritaram palavras de ordem e queimaram um boneco representando o governador. Eles exigiam o impeachment de Cabral, o esclarecimento sobre o paradeiro de Amarildo Souza Lima, morador da Rocinha sequestrado por policias da UPP da favela no dia 14 de julho, e também expressavam desaprovação pelo alto custo aos cofres públicos para trazer o líder católico ao Brasil.
Os manifestantes usaram um datashow para projetar no muro de edifícios adjacentes ao palácio do governo a caricatura do governador assemelhando-o a Hitler e a pergunta: “Papa, cadê o Amarildo?” Segundo os organizadres do evento, que foi convocado pelo Anonymous Rio pelas redes sociais e teve mais de 9 mil confirmados pelo Facebook, o protesto não era
contra a figura do Papa nem o catolicismo, mas pelo estado laico e para mostrar ao religioso e ao mundo como o povo é tratado pela Polícia Militar.
A situação seguia tranquila, com alguns momentos de tensão, até o fim da solenidade oficial de recepção do Papa, quando a iluminação pública foi apagada. Por volta das 19h40, um coquetel molotov atirado por um homem encapuzado detonou uma reação sistemática e indiscriminanada da polícia, com bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, spray de pimenta, jatos d’água, choque elétrico, balas de borra e também de arma de fogo. Outros supostos radicais também teriam atirado pedras e morteiros e tentado romper o cordão de isolamento da polícia.
Vídeos produzidos por manifestantes e moradores, no entanto, mostram, de diferentes ângulos, um homem de camisa semelhante à do que jogou o molotov adentrando o cinturão da polícia após se identificar. A Polícia Militar confirmou a presença de agentes à paisana (P2) entre os manifestantes, mas negou serem os que iniciaram o conflito. Manifestantes contam terem ouvido de um suposto P2 logo antes do tumulto: “Não há mais ‘Jornada Mundial [da Juventude]‘ no meio, podem começar”.
Imagens de supostos agentes P2 reunidos entre os manifestantes e usando invariavelmente pulseiras pretas sempre no punho direito agitaram as redes sociais.
Também foram usados ‘caveirões’, os blindados da PM, cães e 50 homens da cavalaria, além de pick-ups pretas. De acordo com a PM, foi escalado um total de 1.500 policiais militares para a ocasião. Muitos trabalharam encapuzados e sem identificação.
Detidos
Os policiais prenderam um manifestante acusando-o de ser o autor do arremesso de coquetel molotov na polícia e de portar uma mochila com 20 molotovs, segundo a Polícia Militar (a Polícia Civil fala num total de 11 molotovs apreendidos). Bruno Telles, 25 anos, morador de Duque de Caxias, desmaiou na Rua Pinheiro Machado após uma bomba ser atirada em sua cabeça pela polícia, mesmo já estando rendido de joelhos. Após o desmaio, os policiais ainda usaram arma de choque. Ele também foi acusado de desacato.
Último a deixar a  9ª DP, após um habeas corpus concedido ontem pela manhã, Bruno nega as acusações. Fotos compartilhadas nas redes sociais mostram o cinegrafista antes da detenção sem nenhuma mochila. No vídeo em que o agente à paisana aparece atravessando o cordão de isolamento, o P2 que retira a camisa está acompanhado de outro agente, que carrega uma mochila semelhante à alegadamente apreendida com o manifestante e apresentada à imprensa pela polícia.
Também foram presos dois cinegrafistas do veículo independente Mídia Ninja, que realizava a transmissão ao vivo pelas redes sociais por streaming para 15 mil pessoas. Filipe Pessanha e Filipe de Assis foram autuados por incitação à violência, o que negam. O primeiro, conhecido como ‘Carioca’, foi detido por um agente P2, ainda no Largo do Machado, quando, segundo Peçanha, o policial o abordou tentando confiscar seu equipamento. O segundo “ninja” foi detido em frente à 9ª DP, sob alegação de publicar conteúdo impróprio na internet.
Após ser fisicamente agredido por um policial, o peregrino Roberto Cassiano, que estava num ponto de ônibus e não participava da manifestação, foi detido e autuado por desacato. Em vídeo divulgado no YouTube, ele conta, saindo da delegacia, que apenas mostrou ao soldado da Tropa de Choque a camisa da Virgem Maria que usava e disse que “a Nossa Senhora era contra a forma de atuação da PM”.
Dentre os detidos, Leandro Silva foi liberado após pagar R$ 1 mil de fiança. Contra ele, a Polícia Militar alegou formação de quadrilha.

Fonte - epochtimes

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